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Como sabemos, a indústria sucroenergética no Brasil passa por um momento de vendas de ativos. São usinas de açúcar, destilarias de álcool e de cachaça (que produz a bebida com esse mesmo nome, matéria prima de nossa Caipirinha). A venda desses ativos, na maior parte, é para reduzir e sanear as dívidas dessas empresas ou quando tomadas por insolvência, são levadas a leilões públicos que executam dívidas em ações judiciais.

Muitas dessas ações judiciais são decorrentes dos prejuízos econômicos causados pela desobediência pelo governo, pelo extinto Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), ao que está previsto na Lei 4.870/65, que fixou, na época, os preços dos produtos derivados da cana-de-açúcar abaixo dos estabelecidos pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). Uma das mais importantes discussões do setor sucroalcooleiro com a União Federal, que aguarda em muitos casos à indenização, em função dos danos patrimoniais sofridos.

Atualmente, em defesa das regras gerais de livre mercado, desburocratizando, valorizando e dando autonomia ao setor produtivo, a sinalização do Presidente Jair Bolsonaro pela venda direta do etanol pelas usinas para postos sem intermédio das distribuidoras, pode diminuir o preço ao consumidor final, aumentando a produção e a competitividade com a gasolina, melhorando a gestão do produtor.

Ainda pelos problemas de gestão, o desalinhamento com os avanços tecnológicos não contribuíram para reduzir custos e aumentar a produção no setor. As dificuldades de gestão na sucessão familiar, com o aumento de herdeiros em cada geração, também levam alguns grupos, equilibrados econômica e financeiramente, a admitir a possibilidade de analisar boas propostas, mesmo que seus ativos não tenham sido disponibilizados para venda.


indústria sucroenergética

Nesse sentido, não apenas a oportunidade das partes interessadas de fazer negócios em um mercado cada vez mais crescente relacionado às commodities derivadas da cana-de-açúcar, mas, especialmente, pela possibilidade de buscar o aumento de receita para quem produz, através da aplicação de novas e modernas técnicas de produção e sistemas logísticos.

No campo, a irrigação, sem desperdício de água; a mecanização também para conservação do solo; o geoprocessamento para um melhor planejamento; a automação, para se tornar mais competitivo; o melhoramento genético, para o aumento da produtividade; e as inovações em processos biotecnológicos, ligados a produção e a transformação de resíduos sólidos em ativos, como já aconteceu há algum tempo com o melaço e o vinhoto, anteriormente um problema para o meio ambiente.

É importante notar, que grandes perdas de bagaço e palha de cana-de-açúcar precisam ser reduzidas nas plantas industriais e no campo. Não apenas para manter a autossuficiência energética, mas também no fortalecimento da busca pela eficiência e eficácia da produção. Missão que deve ser incessante para aumentar o volume e o poder calorífico disponíveis para essa biomassa, seja na cogeração de energia ou geração combinada de calor e energia (CHP), na refinação de açúcar ou redução de custos onde o processo já existe, como também na forma de insumo para venda.

Perdas ainda existem, o que pode significar aumento de receita. Antes de serem queimados, o bagaço e a palha da cana devem passar por um processo de hidrólise, permitindo que se rompa a lignina e, através do refino nesse processo de produção está a possibilidade da extração do xilitol (adoçante natural, mais doce do que a sacarose, porém, muito menos calórico) e / ou a produção de biocombustível, o etanol de segunda geração, proveniente da celulose.


Nesse processo de produção, outra etapa advinda da hidrólise do bagaço e da palha da cana. Com a quebra da lignina o mesmo fica adequado como volumoso na alimentação de animais ruminantes como na espécie bovina. Mas ai, o questionamento de como ficaria a cogeração de energia?
Pois bem, já há muitos e muitos anos, nas usinas de etanol a base de milho nos Estados Unidos, foram criados grandes confinamentos de bovinos, alimentados com o bagaço do milho que tem um valor proteico maior do que o bagaço de cana-de-açúcar. A geração de vapor e cogeração de energia não eram realizadas com a queima do bagaço, e sim, com a utilização do esterco dos animais. Processo que pode ser realizado tanto pela queima como biomassa, como pela produção e utilização do biogás proveniente da biodigestão.


De forma sistêmica na cadeia produtiva da cana-de-açúcar, nós podemos ainda recuperar e comercializar o CO2. Capturado nas dornas de fermentação pode ser utilizado no estado gasoso em diversas aplicações industriais, tais como: na carbonatação em cervejarias, na água ou produção de refrigerantes; no estado líquido, para o enchimento de cilindros (a exemplo de armas de propulsão de paintball ou em extintores de incêndios).


Nessa mesma linha, o CO2 no estado sólido pode ser utilizado para produção de pellets de gelo seco ou como congelante para alimentos; em substituição ao jato de areia, no jateamento de peças metálicas; no tratamento de efluentes líquidos; na indústria de refrigeradores pela expansão do poliuretano; na rebarbação de artefatos de borracha; na produção de fertilizantes; na produção de bicarbonato de sódio; na pigmentação de peças plásticas; e na produção de algas que dentre outras utilizações pode-se obter o biodiesel; e muito mais.


indústria sucroenergética


Finalizando por aqui, mas não no desenvolvimento dinâmico dessa cadeia produtiva, a possibilidade de gerar créditos de carbono ou redução certificada de emissões nesse processo que podem ser negociados no mercado internacional.


Transformar as cinzas da combustão da biomassa não como um elemento da morte, mas no ressurgimento da vida, como no “fênix”, o pássaro da mitologia grega, que quando morria, entrava em auto-combustão e, passado algum tempo, ressurgia das próprias cinzas.
Biorrefinaria para a completa transformação e o aproveitamento da biomassa da nossa cana-de-açúcar. Vamos dar mais proteína a ela. Fermenta Brasil, libera as suas enzimas. Catalisa, reage, polimeriza e agrega valor!

Contudo, sem nunca se esquecer dos “rios de água viva”, no irrigar o bem querer e o bem estar para com todas as pessoas, no caminhar e por suas verdades vividas no passar das fases nesse processo de transformação. Seja educando ou pesquisando, trabalhando no campo ou na indústria, regulamentando ou distribuindo, dirigindo, comentando e, consumindo de forma sustentável os produtos derivados do refino da nossa cana-de-açúcar.
Dessa forma, estamos unidos e refinados de maneira síncrona e pela energia do “Inconsciente Coletivo”.

Joaquim De’Carli de Paula
Leiloeiro Rural

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